CAMPESINATO, GRUPO DOMÉSTICO E GÊNERO: O COTIDIANO DE VAQUEIROS E MULHERES NO INTERIOR CEARENSE

Autores

  • Laenia Nascimento da Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Palavras-chave:

Campesinato, grupo doméstico, gênero, ajuda.

Resumo

Considerando a figura do vaqueiro, e sobretudo, a de suas esposas como elementos centrais da discussão, o presente artigo toma por base os conceitos de campesinato, grupo doméstico e gênero, assim como as relações entre homens e mulheres em duas fazendas no município de Sobral (CE), aqui denominadas “Fazenda Estrela” e “Fazenda Grotas”. Investigo como esses espaços, em se tratando de ambientes públicos e privados, variam de acordo com os corpos que os habitam e como eles se transformam: seja no cotidiano, através da separação dos papeis sexuais na rotina de trabalho, ou quando ocorrem as disputas de vaquejada. Percebo que a atribuição das funções exercidas pelos membros da família camponesa, antes sob domínio masculino, pode ser compreendida como uma “complementariedade hierarquizada”, uma vez que ambos, homem e mulher, contribuem para a realização das funções diárias nas propriedades. Todavia, para além dessa ajuda característica da distribuição de atividades no grupo doméstico, os dados apontam que as mulheres passam a assumir também o papel de competidoras nas disputas de vaquejada, e não apenas o de espectadoras ou acompanhantes dos maridos. Desse modo, a pesquisa questiona a equivalência entre as oposições público:privado e masculino:feminino, problematizando essa homologia estrutural, sem com isso supor uma “igualdade” entre homens e mulheres.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BUTLER, Judith. “Sujeitos do sexo/gênero/desejo”. In. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2020.

CARNEIRO, Ana. ““Mulher é trem ruim”: a “cozinha” e o “sistema” em um povoado norte-mineiro. Estudos Feministas, v.25, n.2, pp. 707-731, 2017.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. 2 ed. São Paulo: Principis, 2020.

DAIANESE, Graziele; CARNEIRO, Ana; MENACHE, Renata. Campesinato, gênero, pesquisa de campo: Ellen F. Woortmann com a palavra. Tessituras, Pelotas, v. 6, n. 2, p. 10-26, jul./dez. 2018.

DAIANESE, Graziele. “Trabalhos, Ajudas e Gênero: Um Olhar Desde as Experiências Das Mulheres Da Tercira Margem – Minas Gerais, Brasil.” Tratado Latinoamericano De Antropología Del Trabajo, edited by Hernán M. Palermo and María Lorena Capogrossi, CLACSO, Argentina, 2020, pp. 1213–1246.

DORLIN, Elsa. Sexo, gênero e sexualidades. Introdução à uma teoria feminista. São Paulo: Crocodilo/UBU Editora, 2021.

FORTES, Meyer. O ciclo de desenvolvimento do grupo doméstico (série traduzida). Brasília: Universidade de Brasília, Departamento de Antropologia. 2011.

GARCIA JR., Afrânio; HEREDIA, Beatriz. Trabalho Familiar e campesinato. América Latina, ano.14, p.11-21, 1971.

HEREDIA, Beatriz. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores no Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

OKIN, Susan. Gênero, o público e o privado. Estudos Feministas, p. 305-332, 2008.

PAULILO, Maria Ignez. O peso do trabalho leve. In: Mulheres Rurais. Quatro décadas de diálogo. Florianópolis: Editora UFSC, 2016.

PAULILO, Maria Ignez. Feminismo Camponês e popular e pós-modernismo. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, p. 253-277, 2021.

PALMEIRA Moacir. “Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional”. In: Cliff Welch et alli. (org.). Camponeses brasileiros: Leituras e interpretações clássicas, vol. I. São Paulo/Brasília: UNESP/NEAD, pp.203-215, 2009 [1977].

PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura. “O sitiante brasileiro e o problema do campesinato”. In: Maria Isaura Pereira de Queiroz. O Campesinato Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1976.

PISCITELLI, Adriana. Gênero: a história de um conceito. In: Diferenças, igualdades. Heloisa Buarque de Almeida e José Eduardo Szwako (Orgs.). São Paulo: Editora Berlendes&Vertcchia, 2009.

REDFIELD, Robert. “The social organization of tradition”. In:______. Peasant Society and Culture. An Anthropological Approach to Civilization. USA: The University of Chicago Press, 1956.

SILVA, Laenia. Do ‘aboio’ ao valeu-boi. Aprendizagem e luta de vaqueiros e mulheres no município de Sobral – CE. 2019. 83 f. (Monografia de Graduação). Graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral, 2020.

STRATHERN, Marilyn. O gênero da dádiva. Problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas: Editora da UNICAMP, 2006.

TEIXEIRA, Jorge Luan. Na terra dos outros: mobilidade, trabalho e parentesco entre os moradores do Sertão dos Inhamuns (CE). 2014. 222 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, 2021.

______. Caçando na mata branca: conhecimento, movimento e ética no Sertão Cearense. 2019. 462 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, 2021.

WITTIG, Monique. “O Pensamento Hétero”. 1980. Disponível em https://we.riseup.net/assets/162603/Wittig,%20Monique%20O%20pensamento%20Hetero_pdf.pdf8

WOOTMANN, Ellen. O sítio camponês. Anuário Antropológico, 6 (1), 164-203, 1982.

WOOTMANN, Ellen. Da complementaridade à dependência: a mulher e o ambiente em comunidades “pesqueiras” no Nordeste. Brasília: Série Antropologia, 1991.

Downloads

Publicado

27-12-2022

Como Citar

Nascimento da Silva, L. (2022). CAMPESINATO, GRUPO DOMÉSTICO E GÊNERO: O COTIDIANO DE VAQUEIROS E MULHERES NO INTERIOR CEARENSE. Revista Homem, Espaço E Tempo, 15(2), 63–82. Recuperado de //rhet.uvanet.br/index.php/rhet/article/view/512